O amor e o apoio da família são ingredientes importantes para o tratamento e a recuperação da pessoa que sofre de esquizofrenia. Se alguém próximo a você sofre desta doença, você pode fazer uma grande diferença na vida desta pessoa, ajudando-a a encontrar o tratamento certo, a lidar melhor com os sintomas e a pavimentar seu longo caminho da recuperação.

Por outro lado, ajudar alguém com esquizofrenia pode ser uma tarefa árdua e você pode não conseguir fazer isso sozinho, precisando recorrer a profissionais e serviços capacitados. Mas, sobretudo, você precisará cuidar de você mesmo para conseguir ajudar mais seu ente querido.

Se alguém próximo a você tem esquizofrenia, provavelmente você tem se pegado com sentimentos como medo, culpa, raiva, frustração e desesperança. A doença pode ser difícil de aceitar. Você pode achar que não conseguirá ajudar seu parente diante dos sintomas que ele apresenta ou pode estar preocupado com o estigma que ele vai sofrer ou ainda se sentir confuso e envergonhado com os comportamentos que você não consegue compreender. Você pode ficar tentado a esconder a doença das outras pessoas.

Para início de conversa e para que você consiga lidar melhor com a doença é importante que você tenha em mente o seguinte:

1) Aceite a doença e suas dificuldades.
2) Seja realista em relação ao que você espera da pessoa que tem esquizofrenia e de você próprio.
3) Tenha senso de humor.
4) Procure fazer o melhor para ajudar seu parente a se sentir bem e aproveitar a vida, preste a mesma atenção às suas necessidades e mantenha a esperança.

Informe-se

Ler sobre a doença e seu tratamento vai lhe permitir a tomar melhores decisões, a manejar melhor os conflitos, a trabalhar em conjunto com o paciente pela sua recuperação e a lidar melhor com obstáculos e retrocessos.

Reduza o estresse

O estresse pode fazer com que os sintomas da esquizofrenia se acentuem, portanto, é importante criar um ambiente que ofereça estrutura e suporte para o paciente. Evite pressioná-lo ou criticá-lo por eventuais falhas que ele cometa.

Estabeleça expectativas realistas

É preciso ser realista sobre os desafios e limitações que a esquizofrenia impõe. Ajude seu parente a estabelecer e alcançar objetivos que ele possa manejar nesse momento e tenha paciência com o ritmo lento da recuperação.

Empodere seu parente

Tenha cuidado para não ultrapassá-lo e fazer por ele as coisas que ele seja capaz de fazer. Procure ajuda-lo e ao mesmo tempo encorajá-lo a ter mais independência possível.

Cuide mais de você

Para conseguir ajudar melhor seu parente, você precisa cuidar de suas próprias necessidades. Assim como o paciente, você também precisa de ajuda, encorajamento e inteligência/compreensão para lidar com as situações. Quanto mais você sentir que tem um suporte e alguém que se importa com você, melhor você será capaz de ajudar seu ente querido. Fazendo uma alusão ao que ocorre num avião em caso de despressurização da cabine, você precisa colocar a máscara de oxigênio primeiro em você para depois ajudar quem não tem condições de fazê-lo sozinho.

Junte-se a um grupo de auto-ajuda

Essa é uma das melhores formas de apoio na esquizofrenia. Grupos de ajuda formados por familiares que passam por situações muito semelhantes a sua podem ajuda-lo a se empoderar e a ter esperança de que a mudança e a recuperação são possíveis. Reduz também o sentimento de solidão, isolamento e impotência. É também uma fonte importante de aconselhamento, para compartilhar experiências e informações.

Tenha um tempo livre para você

Reserve um tempo do seu dia para fazer coisas que você gosta, seja relaxar contemplando uma paisagem ou a natureza, seja encontrando com amigos e se divertindo. É importante você criar um intervalo no cuidado com a pessoa adoecida para evitar o burnout.

Cuide de sua saúde

Mantenha os cuidados com sua saúde física, mantendo um bom sono, exercitando-se com regularidade, cuidando de sua alimentação, indo regularmente ao médico. Negligenciar sua saúde só faz aumentar o estresse.

Cultive amizades

É importante você manter outros relacionamentos. Não se sinta culpado por se preocupar com suas necessidades sociais! Você também precisa de ajuda e relacionamentos positivos podem ajuda-lo em momentos difíceis.

A importância de administrar o estresse

A esquizofrenia traz estresse para o paciente e para o ambiente familiar. Se você não tomar cuidado, ficará esgotado e, consequentemente, estressará ainda mais a pessoa que sofre com a doença. Manter o estresse sob controle é uma das coisas mais importantes que você pode fazer por seu familiar.

Pratique sua aceitação

Uma das piores coisas é você empacar no dilema “por que comigo?”. Ao invés de ficar pensando o tempo todo como a vida foi injusta contigo, aceite seus sentimentos, mesmos os negativos, e procure lidar com eles de forma a não deixa-los se tornar uma obsessão.

Procure ter prazer

Ter momentos de diversão e alegria não é supérfluo ou leviano, mas necessário. As pessoas não são felizes porque não tem problemas, mas porque aprendem a ter prazer na vida apesar de suas adversidades.

Reconheça seus próprios limites

Seja realista em relação ao nível de suporte e cuidado que você é capaz de prover. Você não pode dar conta de tudo e não vai conseguir fazer aquilo que se propõe se estiver emocionalmente esgotado.

Evite culpar-se

Você precisa compreender que, apesar de você ser capaz de fazer uma grande diferença, você não deve se culpar pela doença ou se sentir responsável pela recuperação de seu parente. Você pode ajuda-lo, mas não tem como fazer por ele!

Encorajando e apoiando o tratamento

A melhor forma de ajudar na recuperação de uma pessoa com esquizofrenia é leva-la a um tratamento e ajuda-la a se manter nele. O maior desafio inicial é convencer o paciente em surto de ir ao médico. Se ele se mostrar relutante, algumas estratégias podem ser úteis.

Ofereça opções

O seu parente pode ficar mais aberto a procurar um médico se ele perceber que isso pode ajuda-lo a controlar melhor a situação. Se ele estiver desconfiado de você, pense em outra pessoa que possa acompanha-lo na consulta.

Foque num sintoma particular

A pessoa com esquizofrenia pode ter temores de ser tachada como “louca”, de ser internada ou de tomar remédios fortes. Ela também pode não aceitar ir ao médico para tratar de um problema que ela não percebe como doença (p.ex. por causa de seus delírios e alucinações que ela acredita serem reais). Porém, ela pode aceitar uma ajuda para lidar com a insônia ou com a falta de energia, por exemplo. Tentativas de normalizar a experiência (todo mundo pode precisar um dia de um psiquiatra para lidar com o estresse a ansiedade) e de reduzir a ameaça e o estigma que esse tipo de atendimento normalmente tem para as pessoas podem ajudar.

Procure ajuda logo

A intervenção precoce faz uma grande diferença para a recuperação da esquizofrenia, portanto, não perca tempo. Seu parente precisa de ajuda para encontrar um tratamento, dificilmente ele fará isso sozinho.

Encoraja a independência

Ao invés de fazer tudo por ele, estimule o auto-cuidado e a auto-confiança. Ajude-o a reaprender ou desenvolver as habilidades que o ajudarão a ter mais independência.

Seja colaborativo

É importante que a pessoa com esquizofrenia tenha voz no seu tratamento e possa compartilhar com os terapeutas as suas decisões. Quando ela se sente respeitada e reconhecida, ela se motiva mais a seguir o tratamento e a trabalhar pela sua recuperação.

Monitorando a medicação

Uma vez iniciado o tratamento, o monitoramento dos remédios pode assegurar que o paciente permaneça no seu caminho da recuperação, além de poder tirar o melhor proveito do medicamento. Você pode ajudar de diferentes formas.

Leve a sério os efeitos colaterais

Muitos pacientes param o remédio por causa de efeitos colaterais, por isso procure conhecer bem os possíveis efeitos adversos dos medicamentos antipsicóticos e preste atenção às queixas que seu familiar faz em relação a eles. Leve ao conhecimento do médico qualquer efeito colateral percebido pelo paciente. O médico pode tomar decisões que reduzam o efeito desagradável, como reduzir dosagens, trocar o remédio ou prescrever outros para combater o efeito colateral.

Encoraja seu familiar a tomar a medicação regularmente

Mesmo com os efeitos colaterais sobre controle, muitos pacientes se recusam a tomar medicamentos ou os tomam de maneira irregular. Isso pode decorrer também da falta de consciência de estar doente e de não compreender a importância da medicação. Outro fator é que o paciente pode simplesmente se esquecer de tomar sua dose diariamente, pois a doença também pode trazer problemas de memória e atenção.

Calendários de medicação, caixas organizadoras de comprimidos, alarmes no celular podem ajudar aqueles pacientes mais esquecidos. Não caia no pensamento comum de que o paciente esteja esquecendo ou se recusando de tomar o remédio propositalmente. A própria doença causa isso, seja por problemas cognitivos ou pela falta de consciência, que é um sintoma da doença, chamado de anosognosia.

Diante de um problema como esse, procure não pressioná-lo, leve ao conhecimento do médico, pois existem antipsicóticos que podem ser administrados uma ou duas vezes por mês, sem a necessidade dos comprimidos orais. São medicamentos injetáveis de longa ação, dados por via intramuscular, muito eficazes no controle da doença.

Tenha cuidado para evitar interações medicamentosas

Antipsicóticos podem causar efeitos desagradáveis quando combinados com outros medicamentos de uso corriqueiro, vitaminas e fitoterápicos. O uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas também é prejudicial. Portanto, comunique sempre ao médico sobre o uso de medicamentos e outras substâncias.

Monitore o progresso de seu familiar

Você pode ajudar o médico a acompanhar o progresso no tratamento relatando a ele sintomas importantes, como mudanças de comportamento, de humor e outros sintomas em resposta ao medicamento. Um diário é uma boa forma de registrar os detalhes do cotidiano, história dos medicamentos utilizados, efeitos colaterais apresentados que podem ficar esquecidos com o passar do tempo.

Preste atenção aos sinais de recaídas

A interrupção do medicamento é a causa mais frequente de recaída, por isso a importância de assegurar que o tratamento está sendo seguido à risca. Mesmo os pacientes estabilizados e em recuperação precisam da medicação para manter seus ganhos e afastar os sintomas.

Infelizmente, mesmo que o paciente tome seu medicamento regularmente, recaídas podem ocorrer por outros motivos. Mas se você aprender a reconhecer os sinais de alerta de uma recaída e tomar prontamente algumas medidas, você pode ajudar a prevenir uma crise aguda. Os sinais de alerta são parecidos com os sintomas e comportamentos da crise anterior.

Prepare –se para uma situação de crise

Apesar dos seus esforços para prevenir uma crise, pode haver um período em que os sintomas evoluem rapidamente e que você precise agir com rapidez para conter a crise.

Plano de emergência – Um bom plano de emergência deve incluir:

• Uma lista com os contatos de emergência, como telefone do médico, do terapeuta, da ambulância e do hospital.
• Familiares e amigos que se disponham a ajudar, como ficar com as crianças ou dependentes enquanto você toma as decisões necessárias.

É bom discutir com o paciente enquanto ele estiver estabilizado que em caso de emergência pode ser necessário acionar o plano de emergência, de forma que ele fique menos desconfiado ou aborrecido sem saber o que esperar numa situação como esta.

Os dez mandamentos em caso de uma crise

(fonte: Word Fellowship for Schizophrenia and Allied Disorders)

1) Lembre-se que você não pode discutir com a pessoa em crise
2) Lembre-se que a pessoa pode estar assustada com a própria perda de autocontrole
3) Não manifeste irritação ou raiva
4) Não grite
5) Não seja sarcástico
6) Reduza coisas que provoquem maior distração (desligue TV, rádios, luzes fluorescentes que piscam, etc)
7) Peça a qualquer visitante casual para ir embora, quanto menos gente, melhor
8) Evite o contato olho a olho de forma contínua
9) Evite tocar a pessoa
10) Sente-se e peça a pessoa para se sentar também

Texto baseado no artigo “Helping your loved one with schizophrenia” SZ Magazine, 2013, 11 (4): 15-17

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