Eric Kandel, 81 anos, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 2000, deu uma palestra no XXIX Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em novembro no Rio de Janeiro.

Intitulada de “Ratos, Homens e doença mental: modelos animais e sintomas negativos da esquizofrenia”, Kandel falou sobre a importância da pesquisa básica para encontrar medicamentos que atuem mais especificamente nos sintomas das doenças mentais.

Para ele os antipsicóticos mais modernos, embora mais bem tolerados pelos pacientes por não causarem os sintomas de impregnação, pouco avançaram no tratamento dos sintomas negativos e dos sintomas cognitivos. “Estes permanecem sendo o grande desafio do tratamento da esquizofrenia, pois além de estarem relacionados entre si (pacientes com maior prejuízo cognitivo possuem mais sintomas negativos e vice-versa), são estes sintomas que mais comprometem a vida das pessoas que sofrem da doença”, sentencia.

Kandel conseguiu simular em ratos o que ocorre no cérebro humano de pacientes esquizofrênicos. Agora ele está testando algumas substâncias e observando as mudanças no comportamento dos roedores.

Alterando a expressão de alguns genes em ratos (particularmente o gene de receptores dopaminérgicos no corpo estriado, localizado na região subcortical central do cérebro), Kandel e sua equipe conseguiram reproduzir os sintomas negativos e cognitivos da esquizofrenia nos roedores.

Os ratos com este gene ativado tinham pior desempenho nos testes de motivação e de atenção/memória. No tocante ao sintoma negativo, Kandel percebeu que os ratos não se esforçavam o suficiente para alcançar o objetivo final da tarefa.

Para ele, uma hipótese provável seria a dificuldade de antecipar o prazer que a tarefa poderia trazer ao concluí-la e, por isso, não se esforçavam o suficiente. “O paciente muitas vezes tem o prazer hedônico: quando é perguntado sobre o prazer que experimentaria com uma tarefa ele é capaz de responder afirmativamente. Porém, na prática, quando precisa trabalhar na sua execução, o paciente desanima por não conseguir representar este prazer antecipadamente, o que seria um estímulo natural a sua realização”, propõe Kandel.

Ao estimular os ratos com uma substância que bloqueava os receptores de serotonina (5HT2), ele constatou que os roedores melhoravam significativamente o desempenho nos testes de motivação. “Substâncias que estimulem o sistema serotoninérgico do corpo estriado podem ser um caminho para encontrar remédios que tratem especificamente os sintomas negativos da esquizofrenia”, conclui.

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