Uma das teorias sobre a causa da esquizofrenia considera que um aspecto importante para o desencadeamento da doença é a vulnerabilidade da pessoa ao estresse e às adversidades da vida.

Existem dois componentes principais da vulnerabilidade, o inato e o adquirido. A vulnerabilidade inata é aquela que está nos genes e que reflete o ambiente interno e a neurofisiologia do organismo. O componente adquirido é influenciado pelo ambiente externo, como traumas, doenças físicas, complicações na gravidez e no parto, experiências familiares, relacionamentos na adolescência e outros eventos de vida que precipitam o desenvolvimento de um transtorno futuro.

A preservação da saúde requer a manutenção de um equilíbrio dinâmico contra insultos do ambiente em que vivemos, seja químico, físico, infeccioso, psicológico ou social, e a doença surge deste desequilíbrio. Uma pessoa altamente vulnerável é aquela em que as contingências corriqueiras da vida são suficientes para deflagrar um episódio, enquanto os com menor grau de vulnerabilidade precisam de eventos mais raros ou catastróficos para induzir um episódio de doença.

Existem evidências consistentes de que eventos de vida estressantes, como perdas, promoção, casamento, desemprego e divórcio, podem ter um papel importante na origem das doenças físicas e mentais. Por outro lado, com exceção de calamidades naturais e algumas fatalidades, eventos estressantes de vida têm relação com o temperamento, as escolhas e o estilo de vida de cada um, o que interfere com a chance de encontrá-los ao longo da vida. Portanto, seria possível identificar padrões de vida mais suscetíveis ao estresse, assim como identificamos pessoas mais suscetíveis a acidentes por possuírem condutas de risco.

O que determina a sobrecarga de um evento, entretanto, é a percepção de estresse de cada pessoa. O que pode ser estressante para uns, pode não ser para outros. Indivíduos mais vulneráveis tendem a ser mais sensíveis ao estresse e sentem a sobrecarga mesmo em eventos considerados normais. Outro aspecto importante são as ferramentas que cada um possui para solucionar os problemas. A dificuldade de lidar com as adversidades faz aumentar a sensação de sobrecarga, colocando a pessoa em risco psíquico para um episódio psiquiátrico. Por outro lado, se ela consegue se adaptar às novas exigências e restabelecer o equilíbrio do organismo diante da situação de estresse, a sensação de sobrecarga diminui e ela se recupera.

O que ocorre na esquizofrenia deriva em grande parte desta susceptibilidade ao estresse. Indivíduos com alto grau de vulnerabilidade e baixa capacidade de resolução entram na adolescência, período de conflitos e novas responsabilidades, desprotegidos e despreparados para lidar com cobranças que poderiam ser naturais a qualquer pessoa. Por isso, nesta época, é mais freqüente um primeiro surto. Outros, com maior resistência, mas ainda assim com um grau de vulnerabilidade para doença, podem desencadear um primeiro surto mais tarde, diante de desafios maiores, como emprego, casamento, divórcio, ou na ocorrência de algum trauma de vida.

Entretanto, a vulnerabilidade, naquilo que depende de fatores externos e da capacidade da pessoa lidar com as adversidades, pode ser fortalecida com o tratamento e proteger a pessoa contra recaídas da doença. Assim sendo, a esquizofrenia em nada difere dos demais transtornos mentais ou doenças físicas, em que o tratamento promove a recuperação.

O que é permanente na esquizofrenia não é a doença, que se manifesta episodicamente, com períodos de recaída e recuperação, mas sim a vulnerabilidade da pessoa. Esta mudança de paradigma é fundamental para que portadores, familiares, médicos e demais profissionais de saúde passem a se preocupar mais com o ambiente e as estratégias pessoais de enfrentamento. Esta é a verdadeira reabilitação e a única forma de prevenir futuros episódios.

Compartilhe: