Um problema comum na esquizofrenia é a falta de adesão por parte dos pacientes ao tratamento com medicações antipsicóticas. As taxas de não adesão após uma recaída podem variar entre 50 e 80%, bem maior do que em qualquer outro transtorno psiquiátrico. Como lidar com esse problema tem sido motivo de muita preocupação e um grande desafio para os médicos e familiares de pacientes.

Não adesão ocorre também em outras doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, mas o que existe de peculiar na esquizofrenia é que nestas doenças você não precisa lidar com a resistência ao diagnóstico. Uma pessoa diabética entende, na maior parte dos casos, que precisa tomar medicamentos para baixar a glicose e que, se não o fizer, terá sérias consequências para a sua saúde. Uma pessoa com esquizofrenia que não acredita estar doente reluta em aceitar o tratamento por não ver nenhum sentido nisso.

Já discutimos no Portal que a consciência de doença ou insight é um sintoma da esquizofrenia e que deve ser, portanto, alvo de tratamento (leia o artigo). Estudos psicoeducacionais (que ensinam sobre a doença) mostram que quando familiares compreendem melhor os sintomas e a natureza da esquizofrenia, a adesão ao tratamento por parte do paciente melhora muito devido à atitude positiva de toda a família. Porém, a psicoeducação quando aplicada diretamente ao paciente não mostrou eficácia semelhante.

Mesmo assim, alguns pacientes que negam a doença continuam tomando a medicação. Um aspecto importante, e que aumenta a adesão, é quando o paciente percebe do seu ponto de vista que o remédio pode ajudá-lo a se sentir melhor, especialmente quando ele encontra uma forte motivação própria. Um exemplo é quando o paciente não aceita tomar o remédio por causa da esquizofrenia, mas o faz por perceber que ele o ajuda a dormir e a ficar menos ansioso.

Outro fator que ajuda na adesão são os relacionamentos. Existem estudos que comprovam maior adesão entre pacientes casados do que entre solteiros. O paciente pode tomar a medicação por que gosta ou confia no médico ou por sua relação com algum membro da família.

Um tratamento que tem se mostrado eficaz como complemento à medicação na esquizofrenia é a terapia cognitiva comportamental (TCC). Pacientes que aderem à medicação, mas que mantém sintomas persistentes, podem se beneficiar da TCC, com redução dos sintomas, prevenção de recaídas e maior insight (consciência) em relação a precisar de tratamento (e não necessariamente de ser portador de esquizofrenia).

A TCC aplicada à esquizofrenia é diferente da técnica utilizada na depressão ou na ansiedade. Ela não deve insistir no modelo médico e precisa centrar no paciente, partindo daquilo que mais o incomoda, para formular um plano de tratamento. Nesta abordagem, um dos objetivos é mostrar ao paciente como a medicação pode ajudá-lo em seus projetos ou no alívio daquilo que o incomoda. Não se trata de explicar como medicações funcionam ou impor a ele a idéia de que ela é imprescindível. É preciso que o paciente compreenda a importância da medicação dentro de sua própria perspectiva.

O que estudos mostram é que quando se tenta impor um tratamento contra a vontade, sem dialogar com o paciente, ele tende ao fracasso ou abandono após algumas semanas ou meses. A TCC pode ser útil nesses casos, em que o paciente rejeita o fato de ter esquizofrenia, não gosta do rótulo de doença mental e não aceita uma abordagem psicoeducativa centrada no modelo médico, mas deseja conversar com alguém para aliviar seu sofrimento.

A TCC é uma técnica mais recente, diferente da psicanálise e outras técnicas psicodinâmicas. Ainda pouco disponível no serviço público, você a encontra mais em serviços universitários, como as clínicas de psicologia aplicada das faculdades de psicologia. Informe-se melhor numa universidade ou faculdade próxima a você.

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