Olá meu nome é Mariah Aragão das Neves, nasci em Brasília – DF em 16/09/1985, de seis meses e meio. Sou filha de Patrícia e Fernando, fui criada pelos meus avós maternos Tarcísio e Maria José, eles fizeram tudo por mim.

Vim morar em Teresópolis em junho de 1992. Minha infância foi bastante legal, porém cheia de conturbações, pois não tinha amigos e enfrentava ciúmes desenfreados de alguns parentes. Joguei futebol na escola até os 14 anos. Tinha meu primo como meu melhor amigo, mas por termos interesses diferentes, essa amizade não perpetuou até os dias de hoje.

Iniciei uma vida social aos 15 anos, após fazer um encontro chamado Maranathá, na igreja Católica, que ocorreu em novembro de 2000. Fiz amizades fora do ciclo familiar devido as reuniões do grupo de jovens. Em 2003 tive meu primeiro namorado, Rafa, hoje ele é meu marido.

Iniciei em agosto de 2003 a faculdade de Fisioterapia, tive vários imprevistos que me fizeram parar o curso e retornar aos poucos em 2005, julho.

Sempre fui muito agitada e desatenta; tive várias dificuldades de aprendizagem e progressivamente passei a ter muita dificuldade de relacionamento, nunca fui de ter muitos amigos e o relacionamento com os familiares como tios e primos até acabar por total com uma grande parte deles.

Minha adolescência foi difícil e a cada dia mais isolada e restrita a poucas pessoas e amigos e com bastantes conflitos familiares, grandes ataques de raiva e uma gigante instabilidade de humor. Em 2004 com os meus 19 anos comecei a entender que ouvia vozes e via pessoas, no entanto não sabia explicar o que acontecia.

Em 2005 mudei de religião e tinha um convívio de muita fissuração com algumas pessoas. Em 2009 o que era só visões e vozes passou a ser ameaçador, onde um exército de anjos demoníacos me vigiava e queriam me levar com eles, pois como eu não era uma pessoa boa e nunca alcançaria a salvação e se continuasse na Terra faria com que muitas pessoas queridas sofressem e o mundo não poderia então ser salvo pelos anjos bons e assim toda a humanidade seria infeliz. Esses anjos demoníacos colocaram em meu ouvido um chip para me vigiarem e os anjos bons assim poderiam me explodir e salvar a humanidade. Nesse tempo eu tinha muito medo e até ao sair percebia que todas as pessoas me vigiavam e queriam que eu explodisse, foi nesse momento que meu amigo Flipi (imaginário, porém personalizado em um boneco) ficou ao meu lado o tempo todo e sempre tinha um sorriso para me dar.

Em 2012 a medicação do psiquiatra foi retirada e em menos de seis meses toda essa perseguição voltou de uma maneira mais grave, essas melhoras e recaídas foram acontecendo de 2012 a 2016, pois sempre que havia melhora a medicação era retirada e a cada recaída a gravidade era maior com até uma tentativa de suicídio em setembro de 2013.

Em julho de 2016 com o incentivo da endocrinologista e do meu psicólogo resolvemos escutar uma segunda opinião psiquiátrica, foi aí que o temido e tão provável diagnóstico de esquizofrenia paranoide foi fechado. Assim o quebra cabeça que sempre faltou uma peça se completou para mim e meu marido e aqueles sintomas, já citados, mais os dos bichos de várias cabeças, ao qual sempre chamei de formigas que tentavam roubar meu DNA, começaram a amenizar com o novo tratamento, sendo as alucinações sensitivas as que mais persistiram, só tendo um alívio de 90% em abril desse ano com uma revisão da dosagem do antipsicótico.

Muitos questionam o fato de eu não ser agressiva, no entanto desde a infância sempre tive vários ataques de raiva e explosões que muitas das vezes eram agressões verbais e, em poucos episódios, físicas.

Sempre tive que trabalhar o autocontrole, porém quando me sinto ameaçada e perseguida é quase que impossível identificar o real do imaginário. Algumas vezes me perco dentro dos delírios, alucinações e paranóias de perseguições e, quando me vejo dentro desses sintomas, logo sinalizo ao Rafa e peço a ele para não me deixar só. O medo do amanhã é grande, mas cada dia vivido bem é uma vitória e, como sempre fui bastante competitiva, adoro desafios e cada um que venço é gás novo para o próximo.

Quando pensei em me suicidar pela primeira vez, tinha 14 anos, e foram muitas vezes, apenas que me recordo foram mais de 150 oportunidades reais que o pensamento se tornou forte. O suicídio não é só chegar as vias de fato, mas o pensar e atentar contra a própria vida. Algumas vezes escuto que a pessoa está querendo chamar a atenção ou que é frescura.

Muitas vezes pedia a Deus que eu morresse logo, pois eu não tinha o menor valor e só dava trabalho e preocupação. Muitas pessoas diziam que eu era um prejuízo para os meus avós, que era um encosto na vida dos outros.

Em 2009 eu pensei em suicídio praticamente o ano inteiro, no entanto, me faltava coragem. Em 2013, após um surto eu tomei a tal coragem e fui a caminho do Vale da Lua e da caixa d’água da CEDAE, tirei tudo do bolso, tudo de mais importante estava na casa da minha avó, e fui concluir o que as vozes me diziam, de que eu era um peso morto, que não servia de nada e para nada, porém o bom Deus me fez esquecer o celular no bolso e, depois dele tocar umas 15 vezes, resolvi atender e era o meu anjo, o meu amigo e marido Rafa.

O Rafa me convenceu a voltar para casa, voltei e ali eu percebi que eu valia muito e era importante para alguém. Não me esqueço dele chorando, dizendo que não conseguiria viver sem mim. Foi aí que percebi que mesmo que as vozes falem e tenham argumentos pesados para tal, eu sou muito importante para o Rafa e não posso e nem quero deixar ele triste.

Tive que repensar minha vida, pois tudo mudou, até mesmo o meu marido precisou digerir a situação, passando a me controlar em tudo, com medo de recaídas. O psiquiatra da época me ajudou com aumento de remédios sedativos, tive que retomar a terapia com o psicólogo. Tudo precisou ser retomado do zero. E foi com toda a dedicação de tantas pessoas que consegui superar essa que foi o maior desafio contra minha vida.

Muitas pessoas acham um absurdo se tomar remédios de uso contínuo e muitas vezes até rezam para que ocorra um milagre e se pare de tomar. Já eu vejo por outra perspectiva, pois Deus permitiu ao homem desenvolver determinadas substâncias e o desenvolvimento dos remédios, desta forma o uso das medicações contínua é a vontade de Deus para o nosso bem-estar.

Eu tenho quatro doenças crônicas das quais nenhuma tem cura e sim tratamento. Tenho hipotireoidismo, asma brônquica, diabetes tipo II e esquizofrenia. Para ter uma boa qualidade de vida tomo medicações para o tratamento das quatro patologias, porém muitos acham um absurdo, mas eu vejo que para me manter saudável e estável este é o preço que preciso pagar, vamos em frente e paremos de reclamar e ocupar Deus com coisas pequenas.

Posso até dizer que a qualidade de vida que os remédios me proporcionam está em poder hoje realizar o Jiu-jitsu, todos os dias da semana, pois sou apaixonada por este esporte, mas também em fazer musculação à noite com meu marido em uma academia cheia. Troco experiências com as pessoas de diversos lugares que dialogam comigo pelo meu testemunho, o poder de conversar com eles pela internet e poder informar com aquilo que aprendi no tempo de faculdade e de pós-graduação, trocando informações de como lidar com seus conflitos, ajuda muito a mim e a eles, mas sem o remédio não seria capaz de fazer nada.

Hoje, consigo realizar tarefas fáceis como andar de ônibus sozinha, cozinhar com a panela de pressão gritando em minha cabeça, continuar estudando sobre o meu quadro e até mesmo sobre outras patologias, pois sou apaixonada por estudar.

Tenho um controle total das minhas medicações e tento fazer o uso delas perfeitamente para não ocorrer nenhuma instabilidade no meio do caminho e levar uma vida da melhor maneira e mais normal possível sem exacerbação de nenhuma das patologias.

Sei que tem efeitos adversos, no entanto, se botarmos na balança, percebemos que os prós são maiores que os contras.

Tenho estudado muito sobre os surtos na esquizofrenia e o meu ponto de vista em relação a eles. Não por uma teoria, mas sim por viver o surto é que a cada novo surto eu tenho que ter coragem para me reconstruir, pois todo surto é tóxico para o cérebro.

Há um ano estou estável e sem surtos, às vezes. como qualquer ser humano, não acordo bem e meu marido acaba ficando comigo.

Hoje, mesmo sem surto, eu ouço vozes e vejo pessoas, mas elas, na maioria das vezes, não me incomodam e nada que uma boa música não consiga resolver e me auxiliar a realizar as tarefas do dia-a-dia, criar foco e diminuir a agitação.

Acredito que a falta de diagnóstico era um fator estressante que me levava a ter novos surtos, hoje sei o que tenho e consigo saber onde é meu limite e quando preciso parar. A esquizofrenia não me define e nem me rotula: me chamo Mariah Aragão das Neves, formada em fisioterapia, pós-graduada em educação Especial e inclusiva, fundadora do blog: https://mariahnomundo.blogspot.com/

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