Como agir em emergências?
Situações de emergência podem ocorrer na esquizofrenia e pegar a família de surpresa, já que muitas vezes o início do tratamento se dá depois de uma primeira crise aguda, em que pouco se conhece a respeito da doença.
Entretanto, situações emergenciais também podem ocorrer depois do diagnóstico, quando o paciente já está em tratamento, seja por uma recaída do quadro ou pelo surgimento de novos sintomas que antes não aconteciam e, portanto, não eram previstos pela família.
Em todas essas situações é fundamental que a família conte com o apoio de um psiquiatra que possa orientá-la sobre as providências a serem tomadas. O plano de ação nessas situações é complexo e será melhor executado e sucedido se a família tiver o apoio especializado, necessário para delinear as ações de acordo com a particularidade de cada caso.
Portanto, se o paciente ainda não possui um psiquiatra ou se recusa a ir, é recomendável que a família busque um profissional, mesmo sem o paciente. Numa primeira consulta, os familiares poderão contar a história do paciente e narrar os fatos ocorridos para que o psiquiatra os ajude na abordagem ao paciente.
Você pode encontrar os serviços públicos de assistência psiquiátrica, como o CAPS e hospitais especializados, clicando aqui.
INTERNAÇÃO
Nem toda situação de emergência requer a internação do paciente. O importante é encontrar um profissional e obter aconselhamento de como levar o paciente até o médico para tratamento. Porém existem situações de urgência psiquiátrica, em que não há tempo hábil para aguardar uma consulta da família com o psiquiatra e o familiar precisa tomar uma atitude em poucas horas.
Geralmente essas urgências são:
– agressividade física dirigida a terceiros ou a si próprio
– tentativa de suicídio
– situações que colocam o paciente ou terceiros em risco iminente de vida (p.ex. atear fogo na casa, ameaça grave contra sua vida ou de terceiros, comportamento de fuga de um paciente confuso e desorganizado, etc)
Nesses casos o familiar se vê ainda mais sozinho, desamparado, confuso e sem saber que atitude tomar. Não raro também não encontra resposta dos serviços de assistência no tempo de que necessita.
O ideal é sempre ter um plano de ação pronto para situações como esta, mas isso só é possível quando já se conhece essa possibilidade ou quando o paciente já está em tratamento. Este plano de ação deve conter as seguintes informações:
– telefones e endereços de serviços de emergência psiquiátrica na sua região que possam atendê-lo a qualquer momento
– telefones de ambulâncias com equipe especializada em psiquiatria que possam fazer o primeiro atendimento em domicílio, quando não for possível o deslocamento até uma emergência
– telefones de pessoas da família ou amigos que possam ajudar numa situação de urgência (seja na abordagem ao paciente, seja para se responsabilizar por crianças ou dependentes que possam precisar de um responsável no momento de ausência do familiar)
Se for possível pesquisar previamente os recursos de sua região e anotar em um papel esses dados para uma eventual emergência, isso lhe poderá ser bastante útil, pois no momento de uma emergência pode ser difícil lembrar de todos os contatos.
É bom discutir com o paciente enquanto ele estiver estabilizado que, em caso de emergência, pode ser necessário acionar o plano de emergência, de forma que ele fique menos desconfiado ou aborrecido sem saber o que esperar numa situação como esta.
Caso não tenha tempo hábil, lembre-se que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU) possui uma equipe especializada para atendimento psiquiátrico domiciliar 24h por dia e pode ser acionada pelo telefone 192. Esse é um programa do Governo Federal que é operacionalizado por Estados e Municípios em todo território nacional.
O protocolo do SAMU prevê diretrizes para o atendimento à situações de saúde mental (BC 28 a BC 32) que podem ser acessadas clicando aqui. A equipe pode decidir levar o paciente até um serviço de emergência psiquiátrica se for o caso.
O melhor é ligar para o SAMU. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros só devem ser chamados em último caso, pois os profissionais treinados para situações como esta são os paramédicos do SAMU. A PM pode trazer um risco adicional devido à presença de arma de fogo e só deve ser acionada se o paciente estiver armado.
Não leve o paciente de carro para o serviço de emergência, exceto se ele concordar em ir. Caso ele aceite, peça ajuda a pelo menos dois familiares, que irão com ele no banco de trás, em cada ponta (o paciente deve ir no meio). Isso é uma segurança tanto para o paciente como para quem vai dirigir o veículo, caso o paciente mude de ideia no caminho ou se torne agressivo.
Não tome nenhuma atitude forçada ou à revelia do paciente, busque sempre o diálogo e conte com a equipe especializada.
OS DEZ MANDAMENTOS EM CASO DE UMA CRISE
Essas são recomendações do “World Fellowship for Schizophrenia and Allied Disorders” para abordar pessoas que estejam numa situação de emergência ou urgência psiquiátrica.
1) Lembre-se que você não pode discutir com a pessoa em crise
2) Lembre-se que a pessoa pode estar assustada com a própria perda de autocontrole
3) Não manifeste irritação ou raiva
4) Não grite
5) Não seja sarcástico
6) Reduza coisas que provoquem maior distração (desligue TV, rádios, luzes fluorescentes que piscam, etc)
7) Peça a qualquer visitante casual para ir embora, quanto menos gente, melhor
8) Evite o contato olho a olho de forma contínua
9) Evite tocar a pessoa
10) Sente-se e peça a pessoa para se sentar também
PLANO DE AÇÃO PARA PREVENÇÃO DE CRISE
Todo o paciente em tratamento deve ter um plano de ação para situações de crise. Ele deve ser elaborado pelo psiquiatra em conjunto com o paciente quando ele estiver estabilizado. O plano pode ser útil para o paciente e para a família como orientação de como proceder caso ocorra alguma recaída e o paciente possa, momentaneamente, perder seu juízo crítico e mostrar-se reticente em aceitar ajuda.
O plano de ação deve conter:
– sinais e sintomas que foram comuns na crise anterior e que servem de alerta para uma futura crise
– telefones de familiares, terapeutas e psiquiatras que se dispõem a ajudar o paciente caso esses sintomas reapareçam
– medicamentos que deram certo no tratamento da crise anterior, se possível com a dosagem que estabilizou o paciente
– elaboração de um plano de ação, p.ex.: caso o paciente comece a ter alucinações ele ou seu familiar vai ligar para o seu médico e para seu terapeuta informando a ocorrência do sintoma e agendando uma consulta o mais breve possível ou, na inviabilidade disso, vai iniciar o uso dos medicamentos que deram certo na crise anterior até a consulta com seu médico.
O paciente e o familiar devem guardar uma cópia deste plano de ação em um local acessível e junto a outros documentos do seu tratamento para que numa eventual situação de crise possam lê-lo e dar início ao plano estabelecido.