Qual a causa?
Genética
A esquizofrenia tem causa multifatorial, envolvendo fatores genéticos e do ambiente ainda não muito conhecidos. A hereditariedade do transtorno é conhecida desde que a doença foi descrita por Kraepelin e Bleuler, há um século atrás. Há na família de pacientes adoecidos, outras pessoas com os mesmos sintomas ou quadros muito parecidos. A hereditariedade, entretanto, não parece ser o fator determinante, já que também é comum filhos de pais esquizofrênicos não desenvolverem a doença.
Hoje, após várias pesquisas que investigam a causa da esquizofrenia, sabe-se que a genética é responsável por cerca de 50% da chance de adoecer, cabendo a outra metade aos fatores ambientais. A maior evidência disso são estudos com gêmeos idênticos (e que, portanto, possuem DNA iguais), que revelaram uma concordância de apenas 50% no diagnóstico de esquizofrenia. Isto significa que, quando um dos gêmeos desenvolve a doença, o outro também adoece em 50% dos casos.
Alguns genes já foram relacionados à esquizofrenia e, provavelmente, outros também o serão. Os genes da esquizofrenia são responsáveis por regular etapas importantes do desenvolvimento cerebral, bem como a produção de neurotransmissores (substâncias produzidas no cérebro para transmitir impulsos elétricos de um neurônio a outro). Esses genes seriam ativados por fatores ambientais de risco, desencadeando uma cascata de eventos que culminariam em alterações sutis do desenvolvimento do cérebro, caracterizadas principalmente por um erro na comunicação entre neurônios de diferentes áreas cerebrais (desconexão neuronal).
Contudo, um dos maiores obstáculos na pesquisa genética é a inespecificidade dos genes relacionados. Alguns são comuns a outros transtornos mentais, como o distúrbio bipolar, o que sugere que doenças psiquiátricas possam ter uma origem genética comum. O quadro clínico dependeria, portanto, do número de genes envolvidos em cada pessoa. Isso parece também fazer sentido na diferenciação entre os casos mais graves da esquizofrenia, que teriam, teoricamente, uma maior carga genética em comparação aos quadros mais leves.
As pesquisas genéticas em psiquiatria ainda estão em fases iniciais e muito há para ser descoberto. Tratamentos e medicações poderão ser aperfeiçoados a partir das novas perspectivas nesta área.
Ambiente
As pesquisas sobre fatores de risco do ambiente na esquizofrenia são muito difíceis de serem realizadas, pela alta complexidade metodológica. Algumas já conseguiram identificar fatores de risco mais associados ao transtorno, mas provavelmente existem muitos outros ainda desconhecidos.
Em linhas gerais, o ambiente pode influenciar o adoecimento nas etapas mais precoces do desenvolvimento cerebral, da gestação à primeira infância. É nesse período que o cérebro é mais sensível, por estar crescendo com rapidez e depender do ambiente para o aperfeiçoamento de suas funções. Esta etapa também é aquela em que os genes de regulação do desenvolvimento estão mais ativos e que, na presença de variáveis genéticas da esquizofrenia, podem interferir em processos naturais do desenvolvimento.
A adolescência é um outro momento delicado, pois o cérebro começa a moldar-se para a vida adulta. Um processo conhecido como poda neuronal apara as arestas do desenvolvimento, que sempre gera conexões esdrúxulas ou desnecessárias. A esquizofrenia pode estar relacionada a um menor número de podas, com conexões errôneas entre os neurônios. Fatores ambientais na adolescência podem influenciar esse processo, desencadeando o primeiro surto da doença.
Um fator que vem sendo relacionado a um risco maior de esquizofrenia e autismo é a idade avançada do pai no momento da concepção. A explicação para isso seria um aumento na frequência de mutações que ocorrem no momento da divisão celular para produção de espermatozóides. No momento de cópia do DNA, uma sequência do código genético pode ser duplicada ou subtraída por um erro conhecido como CNV (copy number variations) e este novo DNA é transmitido ao filho no momento da fecundação. Esse tipo de mutação é conhecido como mutações “de novo”, pois não são herdadas do DNA dos pais. A frequência de CNV parece aumentar com a idade do pai, o que não ocorre com a mãe. Nem todas as mutações “de novo” são maléficas, algumas estão relacionadas à evolução e à diversidade, porém alguns genes que sofrem este tipo de mutação têm sido relacionados a um risco maior de esquizofrenia e autismo. Este é mais um exemplo de como o ambiente pode interferir com a genética para predispor a doenças.
Os genes que predispõem à esquizofrenia têm isoladamente efeito pequeno, por isso acredita-se que os fatores do ambiente sirvam como ativadores ou amplificadores desse efeito. Um exemplo é a maconha. Algumas pessoas que possuem determinado alelo de um gene relacionados à doença têm até 5 vezes mais risco de desenvolver psicose se usarem maconha aos 15 anos. O risco é menor se a exposição à droga ocorrer somente após os 18 anos de idade. O ambiente, neste caso, pode fazer a diferença entre a pessoa ficar ou não ficar doente, dependendo do uso da droga. Este é apenas um dos genes relacionados à esquizofrenia, que pode influenciar uma parcela de casos, já que muitos outros não têm relação com o uso de maconha.
Na tabela abaixo alguns fatores de risco conhecidos no ambiente e relacionados à esquizofrenia:
Períodos do Desenvolvimento Cerebral | Fatores Ambientais de Risco |
---|---|
Período Pré-Natal | Viroses (influenza, rubéola, herpes) na mãe, particularmente quando ocorrem no segundo trimestre de gravidez; Desnutrição materna; Morte do esposo; Catástrofes; Gravidez indesejada; Depressão durante a gravidez. |
Período Neonatal | Complicações da gravidez (sangramentos, diabetes, incompatibilidade rH, pré- eclâmpsia); Crescimento ou desenvolvimento fetal anormal (baixo peso ao nascer, prematuridade, malformações congênitas, redução do perímetro encefálico); Complicações do parto (atonia uterina, asfixia/hipóxia neonatal, parto cesáreo emergencial); Interação mãe- criança atípica ou maternagem deficiente; Perda precoce de um dos pais. |
Primeira Infância | Infecções do SNC (meningite, encefalite, sarampo); Experiências psicológicas negativas; Traumas, abuso físico e sexual. |
Adolescência | Uso de maconha. |
Teoria Causal
O modelo mais aceito hoje para a causa da esquizofrenia reúne fatores genéticos e ambientais (modelo de estresse-diátese). Ele é teórico e, embora reúna muitas evidências científicas, ainda não é a conclusão definitiva sobre a origem da doença.
De acordo com ele, uma pessoa somente desenvolve a esquizofrenia se houver, de um lado, uma herança genética e, de outro, fatores ambientais de risco, capazes de torná-la biologicamente vulnerável para o transtorno.
Indivíduos com maior carga genética (maior número de genes para a esquizofrenia), por exemplo, podem adoecer com insultos ambientais mais brandos ou em menor número do que aqueles com menor carga genética, que precisariam de um componente ambiental mais forte.
Os fatores ambientais de risco interferem em processos do desenvolvimento e maturação cerebral, ativando genes de susceptibilidade para a esquizofrenia e causando alterações cerebrais sutis, como a desconexão entre neurônios. Esta é a base para que disfunções cognitivas e sintomas positivos e negativos da esquizofrenia se desenvolvam.
Seria como se o cérebro possuísse vários curto-circuitos e diferentes áreas tivessem maior dificuldade para trocar informações entre si, gerando erros no processamento e limitações cognitivas e emocionais. Isso explica, em parte, a vulnerabilidade dos pacientes ao estresse e sua dificuldade para lidar com situações que geram maior sobrecarga.