Melissa Fundakowski, 38 anos, não se lembra da época em que viveu sem a esquizofrenia. Ela tinha apenas 4 ou 5 anos, quando os sintomas da doença vieram à tona – paranóia e pensamentos delirantes. Eles se intensificaram e, no momento em que ela se aproximou de sua adolescência, ela repetidamente começou a se cortar. A primeira de muitas internações se seguiram.

“Eu tinha delírios muito ruins sobre a minha família, sobre os meus pais serem cientistas loucos que faziam experimentos em mim”, diz ela. Acreditando que estranhos a ficavam espionando, ela fez uma barricada na janela de seu quarto com lenhas da chaminé.

Depressão e transtorno obsessivo-compulsivo foram seu primeiro diagnóstico. “Minha mente estava tão confusa”, diz ela. “Eu estava paranóica. Meus pensamentos obsessivos começaram a sair. Eu fiquei com medo de que os professores fossem todos contra mim e todos eles formavam uma coalizão. Eu achava que os diretores estavam sempre me observando. Foi horrível!”

Foi um pesadelo por duas décadas, com tentativas de suicídio, uma sucessão de casas de grupo de apoio (casas em que voluntários, na maior parte pacientes recuperados, oferecem apoio a outros pacientes), médicos e hospitais. “Eu tomei todos os remédios antipsicóticos que existe”, diz ela.

E, então, cerca de um ano atrás, Melissa encontrou a vontade e a disciplina para construir uma nova vida.
“Eu decidi mudar”, diz ela. “Foi minha escolha. Minha escolha para mudar e se tornar uma pessoa melhor. A minha escolha para ficar bem na minha recuperação.”

Com uma nova convicção, ela procurou apoio de novas fontes e de sua família. Ela se aproveitou de uma nova classe de medicamentos e de uma abordagem cada vez mais popular de tratamento, o da recuperação pessoal (do ingles, personal recovery), que envolve o apoio e a orientação de outras pessoas que vivem de forma bem sucedida com sua doença mental (chamada de pares, do inglês “peer”), que foram treinados para compartilhar sua sabedoria e seu encorajamento com outros pacientes.

Após terem dado a ela tudo o que precisava, Melissa é hoje a prova de que a recuperação é possível, dizem aqueles que a conhecem. Ela tem um trabalho voluntário, renovou suas relações familiares, está estudando para ser uma especialista em recuperação para apoio aos seus pares, e é uma líder em seu grupo de apoio e na comunidade.

Ela ri ao descrever uma medida da sua mudança: fotografias de anos atrás a lembram de uma época sombria de sua vida. “Quando eu olho para elas, eu era como, oh meu Deus!, um ser tão lamentável…”

McNulty, que tem transtorno bipolar, é um dos pioneiros do movimento de recuperação pessoal e, assim como Melissa, provou da sua eficácia.

“Nós, do Centro de Recuperação e Bem-estar Oasis (https://www.facebook.com/mhcarioasis/) conhecemos Melissa há anos e assistimos a ela literalmente florescendo”, diz ele. “Ela certamente não está “curada”- a maioria de nós que vive com uma doença mental não estamos – mas ela está caminhando com sua vida. De uma importância fundamental, ela encontrou um senso de propósito, uma vocação para trabalhar com outras pessoas que vivem com transtorno mental. Nessa função ela trouxe esperança e é um exemplo vivo, real, de uma recuperação em ação. Nós a vemos como um modelo”.

Vickie Walters, diretor associado do The Providence Center, encarregado dos serviços residenciais para os pacientes desabrigados, diz que desde que ela se estabeleceu em seu grupo, Melissa “tem sido capaz de compartilhar seus dons com seus pares, tais como tocar piano durante as atividades do grupo. Ela aumentou sua auto-confiança, independência e participação ativa na comunidade, desenvolvendo a capacidade de processar e lidar melhor com seus sintomas”.

O modelo de recuperação pessoal tem se mostrado tão bem-sucedido para as pessoas que vivem com doenças mentais que o centro pretende aumentar “dramaticamente” a sua equipe com pacientes recuperados que sirvam de pares aos demais em recuperação, o que agora são cerca de meia dúzia, diz Owen Heleen, diretor de estratégia do The Providence Center. “Os pares na área de dependência química e de saúde mental têm agora a mesma certificação”, diz ela. “Há 85 pares certificados em Rhode Island. Havia 62 em dezembro de 2015 e há três treinamentos previstos neste ano para os pacientes interessados em se tornarem especialistas em recuperação de pares.”

Tudo agrada Melissa, que, no espírito de recuperação, espera ajudar outros a dar um golpe contra o estigma da esquizofrenia e de outros transtornos mentais.

“Minha vida está indo tão bem agora”, diz ela. “Eu estou consciente de mim mesma. Estou me reafirmando. Estou cuidando de mim mesma!”

E ela encontrou uma missão maior.

“Eu quero retirbuir lá na frente e dizer ‘Olha, eu fiz todas essas coisas terríveis por toda a minha vida e agora eu estou de volta aos trilhos. Finalmente eu estou fazendo o que eu preciso fazer!’ E eu espero mudar a vida de outras pessoas com a minha história.”

Fonte: traduzido do site Providence Journal

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