Recuperação pessoal (do inglês, “recovery”) é um conceito que vem sendo difundido no mundo todo e aplicado pela maioria dos países desenvolvidos na estruturação dos seus serviços de saúde mental.
Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia em abril deste ano, em Florença, por pesquisadores da Universidade de Dublin comparou pacientes em recuperação com pacientes não recuperados depois de 20 anos do primeiro episódio psicótico e concluiu, depois de entrevistas semi-estruturadas de 45 a 90 minutos de duração, que a recuperação pessoal pode ser definida como um processo de gradativa maturação no qual o tempo, o empoderamento e a autoria pessoal (self-agency) do paciente interagem entre si, permitindo que a pessoa aprenda sobre si mesma, sobre sua doença e sobre sua vida. A personalidade do indivíduo parece interagir com o ambiente de forma a aumentar a sua resiliência, que, finalmente, influencia positivamente todo o processo de recuperação pessoal (O’Keeffe et al: A Provisional Qualitative Analysis of the Meaning of and Influences on Recovery According to People Diagnosed with a First Episode Psychosis 20 Years Ago and Their Family members/partners, SIRS 2016).
Componentes da recuperação pessoal (recovery)
Capacitação e auto-gerenciamento
– Identificar indicadores de melhora
– Procurar ajuda/suporte
– Manejar o estresse
Motivação para engajar-se na vida
– Esperança
– Propósito e significado
– Estrutura e equilíbrio
Empoderamento e autoria pessoal (self-agency)
– Compreender a doença
– Outras auto-percepções (perceber-se a si mesmo)
– Controle da doença e da vida
Perceber os benefícios do trabalho de recuperação pessoal
– Relacionamentos recíprocos
– Recuperação clínica
– Liberdade e independência
Diferenças entre pessoas recuperadas e não recuperadas
O mesmo grupo de pesquisadores apresentou outro trabalho, de metanálise, revisando os conceitos de recuperação pessoal de 12 estudos, chegando aos fatores que apoiam ou inibem a recuperação pessoal em diferentes esferas, como pessoal, familiar, do serviço de saúde mental e da sociedade como um todo.
(O’Keeffe et al: A Systematic Review and Meta-Synthesis of Service Users’ Perceptions of the Meaning of and Influences on Recovery in Psychosis, SIRS 2016).
A recuperação pessoal é um processo que depende da busca ativa por parte do paciente, auxiliado pelo seu tratamento, pelas pessoas que o cercam, pelas atividades que lhe dão prazer, sabendo viver um dia de cada vez, com seus diferentes desafios, sem perder a perspectiva de longo prazo e tendo como horizonte seus objetivos que o levarão a uma vida plena e significativa.
A recuperação precisa ser construída e referendada no dia-a-dia, nas suas atitudes, crenças, nas escolhas e decisões, mesmo em relação às atividades corriqueiras da vida. O paciente precisa buscar um sentimento de poder e auto-determinação, acreditar e ter esperança na sua recuperação e num futuro melhor, esses serão os alicerces para que ele tome as decisões corretas voltadas ao seu bem estar e ao desenvolvimento das habilidades de enfrentamento da doença, que lhe serão muito úteis para superar os obstáculos que ainda estão por vir. Esse é um processo lento e gradual, porém acumulativo, de aprendizado, amadurecimento e auto-conhecimento, que podem ajudá-lo a sair definitivamente de um estado de maior vulnerabilidade para um estado de resiliência e fortalecimento.
antonio biroche costa
meu filho está com 35 anos. Esteve internado por 6 meses. Diagnóstico de esquizofrenia. Agora está comigo, mas morando sozinho. Toma remedio olanzapina, mas não aceita a doença. Vai ao psiquiatra por causa do remedio, mas não vai a psicologo porque diz que não é doente. Tenho o livro Entendendo a esquizofrenia e leio. Mas cada conversa com o filho perco o animo de recupera-lo.
drpalmeira
Antônio, sabemos que é difícil, mas não perca a esperança e o otimismo, procure utilizar os ensinamentos do método LEAP que descrevemos no livro, inicialmente procure escutar mais do que dar a sua opinião, tente perceber quais os objetivos dele, do ponto de vista dele e definidos por ele, aos poucos ofereça apoio para alcança-los, tente se aproximar e buscar uma parceria. O mais importante não é fazê-lo aceitar a doença. Isso pode ser até prejudicial se o paciente não estiver aberto a isso. Procure um psicoterapeuta que possa inicialmente ir em casa, um acompanhante terapêutico. Os pacientes têm resistência, mas com a empatia e o vínculo com o profissional, têm mais chance de aceitar. Esteja sempre em contato com o psiquiatra dele, para ver se o tratamento médico em cada momento é o mais adequado para o seu estado emocional. Esses tratamentos precisam caminhar em conjunto.
Luciano lopes lima
Sensacional a qualidade dos seus artigos, muito obrigado por tudo. E me sinto lisonjeado por receber essas infoemaçôes.
A psiquiatra q atende meu filho me aconselhou a não falar com ele sobre a doença.
Como posso proporcionar os ensinamentos do método LEAP com meu filho.
ele foi diagnosticado como esquizofrênico a 5 anos.
drpalmeira
Sugiro que leia o livro do Xavier Amador, que ensina o método. http://www.vidapress.com/i-am-not-sick-i-dont-need-help