Um estudo norte-americano publicado hoje no periódico American Journal os Psychiatry confirma que o tratamento com medicamentos, terapia de família, psicoterapia individual e suporte para trabalho e estudo é superior em vários aspectos ao tratamento usual, centrado na medicação. Os pacientes tiveram melhora da qualidade de vida, dos sintomas, engajaram-se mais em atividades como trabalho e estudo do que aqueles que só tomaram medicamentos.

O Portal Entendendo a Esquizofrenia teve acesso ao estudo e divulga, em primeira mão, os detalhes sobre a metodologia e os resultados.

Este estudo é uma parte de um programa maior do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (foto), chamado RAISE, que se preocupa fundamentalmente com a recuperação de pessoas que estejam sofrendo um primeiro episódio esquizofrênico. O objetivo é encurtar a demora com que pessoas com essa doença esperam para receber tratamento, em média de um a um ano e meio de atraso, e possibilitar que elas se recuperem o mais rapidamente possível, sem sofrer com as complicações e os sintomas crônicos que ocorrem quando o tratamento não é dispensado adequadamente.

A ideia do projeto é desenvolver em todo EUA um tratamento integrado, centrado nas pessoas e na família, de forma a não só promover a melhoria dos sintomas, mas, mais do que isso, possibilitar que essas pessoas possam se recuperar funcionalmente da doença, voltar às suas atividades, estudar, trabalhar, se socializar e viver sua vida de forma independente e autônoma.

Este estudo, conhecido por RAISE-ETP (Early Treatment Program), recrutou 404 pessoas entre 15 e 40 anos de idade, em 34 centros de tratamento comunitário de 21 estados, que tivessem experimentado um único episódio psicótico e não tivessem tomado medicamento antipsicótico por mais de 6 meses.

As clínicas de tratamento foram divididas em dois grupos: o primeiro grupo ofereceu um tratamento experimental chamado NAVIGATE, que incluía 4 intervenções principais: medicação, psicoeducação de família, psicoterapia individual focada na resiliência e ajuda/suporte no emprego e nos estudo. Todos os tratamentos foram ofertados considerando um modelo de decisão compartilhada e a preferência do paciente e os profissionais receberam um treinamento para aplica-lo. O segundo grupo, chamado de “atenção comunitária”, ofereceu o tratamento usual, com medicamentos e outros tratamentos de acordo com a disponibilidade dos serviços, como já era de praxe. Todos os grupos foram tratados ao longo de dois anos.

Para avaliar os pacientes foram utilizadas escalas de qualidade de vida, escala de sintomas positivos e negativos da esquizofrenia, dentre outras. 223 pacientes participaram do tratamento NAVIGATE, enquanto 181 do tratamento usual.

Resultados

Os pacientes que receberam o tratamento NAVIGATE ficaram em média seis meses mais tempo no tratamento do que o grupo que recebeu o tratamento usual, tiveram maior ganho em atividades como trabalho e escola, melhoraram mais dos sintomas positivos e negativos e tiveram melhor qualidade de vida.

Um achado interessante é que pacientes com menor tempo de doença (menos do que 74 semanas) aceitaram melhor o tratamento NAVIGATE, como também tiveram maiores benefícios, com melhor qualidade de vida e maior redução de sintomas positivos e negativos da esquizofrenia quando comparados ao grupo com mais tempo de doença.

Este estudo é o primeiro nos EUA a coordenar diferentes modalidades de tratamento em diferentes centros de saúde mental e o primeiro no mundo com essa abrangência de avaliação clínica e social. Os pacientes que permaneceram no estudo serão acompanhados até concluírem 5 anos de tratamento para averiguar se os benefícios se mantém a longo prazo.

Os autores acreditam que os benefícios do tratamento NAVIGATE tenham relação com o modelo de cuidado centrado na pessoa, através de decisões compartilhadas, onde são levadas em conta as preferências do paciente, além da cobertura do aspecto familiar (através da psicoeducação), do pessoal (trabalhando a resiliência de cada um) e do auxílio nas atividades como trabalho e estudo.

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Estudo: http://ajp.psychiatryonline.org/doi/full/10.1176/appi.ajp.2015.15050632

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