Conheci João três meses depois de um término meio traumatizante de um namoro de quatro anos e meio. Ele era um carioca marrento, de 35 anos, formado em engenharia, escrivão da Polícia Federal, tinha aquele jeito malandro de carioca da gema, adorava beber e sair pra balada e era muito inteligente e estudioso, além de muito bonito. Ele morava em Porto Velho sozinho há 2 anos. O fato de ele ser policial, como eu, e na época estudar pra concursos, também como eu, fez com que nosso envolvimento se estreitasse para além dos meios de balada onde nos conhecemos e ficamos das primeiras vezes. Nós dois éramos muito desconfiados um com o outro pelo ambiente de “nigth” em que nos conhecemos: eu estava aprendendo muito sobre viver a vida após anos de namoros longos, e ele já era baladeiro desde sempre, mas ambos fomos quebrando nossos paradigmas um com o outro.

Eu via a surpresa dele quando ele mesmo introduzia um assunto que achava que eu desconhecia ou quando eu acompanhava seu raciocínio rápido. No ínício eu estranhava demais o jeito direto, meio safado e sincero dele, mas as máscaras foram se quebrando, ambos fomos nos mostrando e eu fui conhecendo o lado maravilhoso que ele tinha. Logo deixamos claro entre nós, por meio daqueles tratos bobos, que era proibido se envolver, nenhum de nós queria compromisso sério naquele momento, e ele me dizia que o mais certo era que ele iria embora de Porto Velho devido a própria política da Polícia Federal, e por isso não gostaria de se envolver em relacionamentos amorosos profundos por aqui, além disso ele acrescentava que estava em um momento de estudo e não gostaria se atrapalhar por causa de um relacionamento… Argumentos, ou melhor, desculpas que me convenciam e eu compreendia muito bem! Eu logo percebi o quanto era complicado pra ele se entregar, se deixar envolver! Era difícil pra ele demonstrar sentimentos, por mais que fossem os mais simples ciúmes! Ele parecia sempre não demonstrar emoções e isso me confundia, pois sem planejar fomos nos apegando. Pra mim foi fácil me apegar a ele, mas pra ele parecia uma barreira extremamente difícil de ser quebrada, ele parecia não querer amar. Porém, como eu afirmei antes, os argumentos dele eram tão fortes que me convenciam de que estava certo em não se envolver, e isso me bastava no início.

Logo esse “rolo” com ele se transformou em angústia pra mim, já não sabia lidar muito bem como no início, pois me apaixonei, me envolvi e ele estava sempre em meus pensamentos. Já ele, ao mesmo tempo que em que me queria perto, tinha um certo limite de envolvimento e dali não passava! Sempre havia as mesmas desculpas. Ia embora, precisava estudar…havia outros motivos também que atrapalhavam os sentimentos dele por mim, como o fato de ele saber que quando começamos a ficar, eu estava saindo de outro rolo com um rapaz e eu comecei dizendo que era do outro que eu gostava, sei que pra ele isso contou demais, eu não sabia ainda até porque não parecia inicialmente, mas João tinha convicções bem machistas!

Quando estávamos juntos conversávamos muitooo, eu sabia tudo da vida dele, ele me contava suas historias de infância, adolescência, as brigas familiares e falava muito do atual trabalho… Na época ele estava envolvidíssimo com a greve nacional da PF e foi um dos cabeças na organização da greve aqui em Porto Velho, o que trouxe muito estresse pra ele, e muitos inimigos também devido ao seu jeito contestador e impulsivo! Mas no momento que mais estávamos próximos, quando eu sentia que ele estava mais disponível a assumir um relacionamento, ele simplesmente sumiu, se afastou, me evitou… Isso foi na época de Natal!

A partir do Natal de 2012, depois de 5 meses em que ficávamos e nos falávamos constantemente, paramos de nos ver, a não ser nos eventuais encontros em baladas nos quais só nos cumprimentávamos ou quando nos falávamos muito raramente por whats app. Eu senti muito esse afastamento, mas fui vivendo a vida, tive outros envolvimentos que também não deram certo, e no fim das contas sempre voltava a ficar com João, ou porque ele aparecia, ou porque eu ia atrás. Eu tinha plena consciência de que ele era a minha grande paixão de solteira, aquele por quem meu coração iria bater forte sempre que encontrasse e isso me preocupava e angustiava, eu sentia uma ligação forte com ele e não sabia explicar! Nem eu, nem absolutamente nenhum de meus primos ou amigos entendia porque ele não se envolvia comigo, já que nos dávamos tão bem! Na verdade todos os achavam um escroto comigo e não o suportavam, mas eu conhecia o melhor lado dele, aquele que ninguém além de mim via…Fui muito criticada por sofrer tanto por um rapaz que nem era meu namorado, nem mesmo um “ficante” contínuo, alguém que nunca tinha me assumido.

Em julho de 2013, após meses de afastamento, voltamos a ter contato e dessa vez um contato diário! Eu o ajudei em alguns recursos que ele precisava fazer de um concurso que ele havia prestado e depois disso nos aproximamos de vez, porém mais como amigos do que como amantes, o que me doía também, ser só amiga “colorida”! Assim aprendi a controlar os meus sentimentos pra que pudesse tê-lo em minha vida, nem que fosse como amigo, achava que valeria a pena! Nesse peródo ele estava direto no Rio, pois havia tirado licença da PF pra estudar. A gente se falava o tempo todo por whats ou face, estávamos muito próximos e eu senti que ele estava deprimido por não ter passado no concurso e me preocupava com isso, assim sempre dava um jeito de animá-lo, com palavras positivas, e ele parecia gostar, se mantinha positivo e me enviava muitas frases motivacionais também. Chegamos a estudar juntos, pois ele queria aperfeiçoar a redação dele e, quando vi, ele já escrevia até parecido com minha forma de redigir (tenho formação universitaria em Direito e cheguei a advogar). Ele parecia um advogado! Ele aprendia muito rápido!

Ele novamente começou a se envolver nos grupos de facebook que eram frutos dos grupos da greve do ano passado, o que eu também não gostei, pois sabia que o deixavam estressado e ansioso! A onda agora era a aprovação da PEC 37, que beneficiaria os agentes e escrivães da PF e os delegados não estavam gostando nada disso! E lá foi João começar a entrar de cabeça nessa discussão! Dessa vez ele me colocou nos grupos e eu acompanhava ele de perto, me preocupava pois ele postava muitas coisas, o tempo todo, até mesmo de madrugada! Comecei a insistir que ele desse um tempo disso. Ele aceitava mas no outro dia lá estava, postando várias coisas…

Certo dia ele me disse que um grupo de anônimos do facebook entrou em contato com ele. Esses anônimos são grupos, meio que de rebeldes, que apoiam causas sociais mais radicais, eu sabia que eles tinham apoiado a invasão ao Instituto Royal e por isso simpatizava com eles! Eu e João sempre compartilhamos dessa alma meio rebelde pelas causas sociais, ele me entendia bem e eu o entendia como ninguém, por já ter feito parte disso na época de GPA e OBA (ONGs de proteção aos animais. Os anônimos queriam apoiar a causa da PEC 37 e viram que ele era um dos principais incentivadores, assim queriam mais proximidade com ele e ajuda dele.

Ele adorou isso, se sentiu importante, útil, justo num momento de fragilidade que ele estava vivendo, em que ele se sentia derrotado… Foi uma faca de dois gumes! Um gatilho para a doença…

João começou a apresentar um comportamento estranho! Ele falava menos comigo ao longo dos dias, e quando falava dizia que estava muito ocupado e que a coisa “estava ficando grande com relação a PEC 37”, parecia empolgado demais com o grupo de anônimos e com tudo que eles falavam. Ele brigava comigo quando eu “curtia” as coisas dele no face, dizia que eu deveria ficar fora disso pra não me prejudicar…

Certo dia ele disse que precisava me contar várias coisas, mas que tinha que ser pessoalmente, pois não era seguro pelo face! Logo comecei a imaginar que ele estava envolvido em algum tipo de greve nacional da PF que estaria prestes a explodir! Eu insistia que ele me falasse o que estava acontecendo, mas ele falava que só pessoalmente e me enrolava. Isso durou uma semana!

Na madrugada de um domingo pra uma segunda eu acordei com insônia, coisa que João conhecia bem que eu tinha! Olhei meu celular e além de ligação dele tinha whats app, pedindo que quando eu acordasse, falasse com ele! Como costumávamos nos falar de madrugada eu não estranhei, mas me preocupei pela forma como ele escrevia: ansioso!

Na mesma hora respondi ao whats e ele me ligou, na ligação ele já parecia muito preocupado e ansioso, e pediu que eu fosse até a casa dele, que não podia falar nem por telefone, pois podia estar grampeado! Como eu sou policial e sei que isso acontece, me preocupei totalmente e na mesma hora me vesti e fui até o apartamento dele, super preocupada com o que esse menino podia estar envolvido! Fui bater lá as 3 da manhã!

Eu o encontrei num estado anormal de ansiedade! Ele falava muito, disse que não dormia há dois dias, mas que tinha muita coisa pra resolver, que os anônimos contavam com ele! Eu me assustei! Insisti pra que ele dormisse e descansasse, mas ele não conseguia relaxar nem comer direito!

Até que, de repente, veio o surto. Ele começou a achar que estávamos sendo perseguidos, que havia câmeras dentro do apartamento dele, que os controles remotos eram gravadores e que haveria uma guerra! Eu assustadíssima ouvia aquilo…E comecei a chorar, sem saber como proceder, pois ele parecia ter enlouquecido!

Eu olhava nos olhos dele, pegava no rosto dele e dizia chorando: João, volta, volta…. Mas ele continuava com os delírios e alucinações e as vezes ficava agressivo!

Pelo whats app eu já fui relatando o que acontecia pra minha prima Mari e pra minha amiga Sônia, e foi Sônia, que é médica, quem me deu a luz: João estava tendo um surto psicótico!

Eu simplesmente não acreditava no que estava acontecendo! Só conseguia chorar, enquanto ele delirava e dizia que eu só sairia da casa dele com seguranças, que ele precisava proteger a mim e a família dele! Foi quando tive a ideia de pedir que ele chamasse um dos irmãos dele que morava aqui em Porto Velho, e ele me obedeceu e ligou pro irmão. Logo depois Cássio apareceu…Quando ele entrou eu chorava muito e ele não entendeu nada, João não deixava que nos falássemos e repetia coisas sem nexo. Logo perguntei baixinho se na família deles havia caso de doença mental e se João já tinha apresentado sintomas de doença mental antes, e Cássio assustado fez que não com a cabeça! Ele pegou meu número de celular a passamos a nos falar por whats app, e eu contei tudo pra ele do que estava acontecendo e de meu envolvimento com João! Cássio logo tratou de chamar o outro irmão, Cláudio.

Cláudio assim que chegou no apartamento de João passou a revistar todos os cômodos da casa, certificando-se que João não ingeria drogas, coisa que eu sabia que ele não fazia, mas era bom mesmo ter certeza! Sentamos os três e eu estava muito abalada, chorava muito! Os dois irmãos que eu acabava de conhecer disseram que eu podia ir pra casa se quisesse, eles dariam um jeito na situação, mas estavam muito perdidos e eu disse que ficaria, que não o abandonaria naquele momento e deveríamos nos unir pra ajudar João, pois ele precisaria muito de ajuda! Assim tudo começou… o tratamento!

Pensamos várias estratégias pra levar João ao hospital, ou pra que uma psiquiatra fosse ao local medicá-lo, mas no fim das contas, ele foi por “vontade própria” no fim do dia ao hospital e lá ele teve o pior surto: gritava coisas relacionadas às alucinações e ficou agressivo! Os meninos me disseram que ele chamava muito meu nome, perguntava onde eu estava e dizia que deveriam me proteger…

O diagnóstico preliminar era esquizofrenia. Eu chorava muito enquanto a médica explicava sobre a doença e pedia informações sobre a personalidade de João. Eu era a pessoa que mais tinha contato com ele, mais que os irmãos e a família de quem ele sempre se isolava. Tomei a frente do tratamento diretamente com a psiquiatra e o contato dela era sempre comigo. Em certo momento ela se virou pra mim e disse: “você já chorou muito por esse rapaz né?” E eu respondi que sim, em lágrimas, e ela continuou: “pelas coisas que ele lhe dizia, certo?” E eu: “sim”… e a doutora completou: “Minha filha, você conseguiu muito dele… Talvez ele não seja capaz de amar, ou de demonstrar sentimentos, mas ele fazia isso do jeito dele quando por exemplo pedia que você fosse lá na casa dele, era o jeito dele demonstrar carinho. Porém, se prepare pra fechar isso no seu coração, o caso dele é grave e o melhor pra ele é voltar pro Rio de Janeiro e fazer o tratamento lá, aqui em Porto Velho não há estrutura pra ele. Ajude agora como puder, você vai ser importante nesse tratamento, mas se prepare pra futuramente fechar esse sentimento.”

Passei o resto dos dias quase que integralmente no hospital. Não apareci no trabalho por uma semana, dormia no hospital e pouco ia em casa, parei tudo pra estar acompanhando e ajudando de perto! Foi um grande choque pra mim e pra família! Mas pude conhecê-los. A psiquiatra disse que se não fosse a crise, ele jamais teria me apresentado a família, pela personalidade isolada que ele tem! Nos revezávamos nos cuidados e João exigia muito de todos nós. Ele ficou estranho após o surto, achando-se sempre perseguido, ansioso, com muita insônia, na mente dele ainda passava os delírios e as vezes ele falava como se ainda estivesse no surto, as vezes até agressivo e muito frio! Foi muito difícil…

Até que, com o uso da medicação, ele foi melhorando consideravelmente. As alucinações foram melhorando e ele foi voltando, mesmo assim com comportamento ainda diferente. Depois disso, dias depois João teve alta e foi pra casa de um dos irmãos, ficou lá com a mãe e os outros irmãos que vieram do Rio para ajudar e para ver de perto a situação. Conversei muito com todos eles e pude perceber que João sempre teve uma predisposição para a esquizofrenia, porém, como disse o irmão mais velho e o que mais tinha a percepção de que João era diferente: “Amanda, éramos pobres, eu percebia que João era uma criança que precisava de terapia, pois pra ele o mundo sempre estava contra ele, mas como, naquela época não havia condições de acesso a tratamento psicológico? Achávamos que com o amadurecimento isso ia passar, mas não passou, só piorou o jeito difícil dele, que acabou afastando até nos mesmos da convivência, julgando-o alguém com uma personalidade complicada.”

Hoje João está no Rio de Janeiro, viajou há semanas atrás, e vou transcrever aqui uma dedicatória do livro “Entendendo a Esquizofrenia” que comprei sobre a doença dele, pra que eu não precise me estender mais:

“Para a família de João,

Acredito que em todo momento de crise podemos aprender… Afinal, viver é um eterno aprendizado, e por isso devemos manter nossas mentes abertas ao conhecimento, seja ele interior (autoconhecimento), espiritual ou por meio das informações que nos rodeiam. Assim tiramos proveito mesmo dos momentos mais difíceis, adquirindo formas e estratégias de passarmos melhor por eles enquanto durarem, e ainda nos transformamos em pessoas com mais experiência e maturidade, pessoas mais fortes e preparadas.
Sim…Tudo acaba girando em torno da informação, preparação e aprendizado!

Esse livro muito me ensinou! Trouxe muitas respostas as minhas angústias e consegui compreender melhor inúmeros comportamentos de João!

Foi como se uma luz clareasse diversas dúvidas e incertezas que eu tinha e não sabia o que pensar ou como lidar com os fatos!

Comprei esse livro nos primeiros dias após o surto de João! Logo que a médica mencionou o termo “esquizofrenia” me despertou a curiosidade em saber todos os detalhes sobre essa doença e eu fui atrás do conhecimento para que, dessa forma, eu pudesse ajudar melhor João e sua família!
Acabei tendo que me afastar do tratamento dele, mas continuei lendo o livro, o qual considero tão rico, tão consolador e estimulante para as famílias de pessoas que manifestam a esquizofrenia.
Realmente a sabedoria abre portas e, mesmo saindo da convivência com João muito desgastada e desanimada, ao ler esse livro eu conseguia ter esperança…

Então percebi que não é comigo que o livro deve estar, ou permanecer…Deve na verdade ser lido, relido e explorado pelos familiares…E quem sabe um dia, pelo próprio João!
Por essa conclusão, eu o passo a vocês! Façam bom uso!

Depositei nele muitas noites de reflexão, esperança e boas energias para que faça bem a vocês!
Portanto, mesmo quando o cansaço e desânimo ousarem lhes abater, leiam páginas desse livro… Tenho certeza que os ajudará e estimulará como fez comigo nos piores momentos que enfrentei durante o tempo em que participei do tratamento!

Abraços,

Amanda”

A psiquiatra acabou se tornando uma amiga pra mim. Eu desenvolvi um carinho enorme por ela, pois nos demos bem imediatamente. Também assim foi com a família de João, a mãe e os irmãos, nos unimos muito e eu tive o prazer da companhia maravilhosa deles, o que trouxe leveza até mesmo nos piores momentos! A despedida foi dolorosa, mas necessária.

Após eu ter conhecido a família de João, nesse momento de crise, todos torceram muito pra que eu e ele nos entendêssemos e formássemos um verdadeiro casal. Sei que nutriram por mim um carinho e uma consideração que o próprio João jamais tinha demonstrado, e isso me emocionou e reforçou minha vontade em ajudar, porém já não visualizava um futuro romance entre nós, pensava o quanto ele era difícil, e agora ficaria pior. Eu não sabia quem era João e o que era a doença! As vezes ele me elogiava, e as vezes falava mal de mim pra mãe e irmãos, que ficavam revoltados, não conseguiam entender bem essa reação dele. Eu ainda lidava com o fato de que, por mais que eu soubesse que não mais teríamos nada, que essa possibilidade estava fechada até de minha parte, João interpretava minhas atitudes de ajuda como se eu estivesse procurando conquistá-lo! Em uma consulta com a psiquiatra, quando ela perguntou a João sobre mim, ele afirmou: “a gente não escolhe quem amar doutora, por mais maravilhosa que a pessoa seja pra nós, Amanda é apenas uma amiga”. Segundo a médica, nesse momento, todos da família baixaram a cabeça, tristes. Logo depois um dos irmãos me ligou contanto esse fato e me aconselhando a seguir em frente de vez. Doeu, mas eu já tinha tomado essa decisão antes disso!

Após João ter ido embora, a psiquiatra entrou em contato comigo pedindo que fosse até o consultório dela. Lá ela me recebeu com um abraço e disse que não se tratava de mais uma consulta em favor de João, e sim de uma conversa entre amigas, e ela revelou sua preocupação comigo. Conversamos muito e eu deixei transparecer toda a minha frustração por ter ajudado João, ter dado o meu melhor, e no fim ainda ter que ter lidado com a indiferença dele. Ela me acalmou, me consolou e disse que nada havia sido em vão. Se eu não estivesse presente no surto ele poderia ter chegado ao suicídio ou ter sido jogado de qualquer jeito em algum hospital psiquiátrico. Além disso a doutora acrescentou que eu somei experiência de vida, que ganhei amigos e a admiração da família de João e que ela própria havia ganhado nisso tudo ao me conhecer e ter minha amizade. Concluímos juntas que o melhor para a cabeça de João e para a minha foi nosso afastamento. Hoje já não temos mais nenhum contato, nem pelas redes sociais ou telefone.

Apesar do jeito difícil de João e da doença, eu afirmo que não cresci com ninguém o que cresci com ele em um ano e meio… O irmão mais velho, que me contou que a mãe tinha esperança que ele melhorasse com o tempo, com a maturidade, disse ainda que a última esperança que eles tinham era o amor, mas que tinham perdido as esperanças após a minha passagem na vida dele. Mas eu não concordei.

Dias depois conversei com o irmão mais velho sobre o livro que vou enviar ao Rio e afirmei que ainda há tempo pro João e, agora que ele vai começar todo um tratamento, também com terapia, é possível ser feliz! Não fui eu, mas pode haver outra pessoa que vai despertar nele a atitude de se abrir a uma vida mais sociável, com mais amigos e um amor, e constituir uma família! O irmão mais novo sempre repete algo que eu admiro ao ouvir: “Podemos nos cansar, mas desistir dele…jamais!”

Compartilhe: